Izaura Franqui da Silva: o shortinho, o Cunha e a Camille Paglia

Nos últimos dias temos tido a oportunidade de acompanhar fatos que são representativos da nossa sociedade: as notícias sobre corrupção, a criminalidade crescente e a foto de belos adolescentes sendo recepcionados em sua volta às aulas, em um ambiente que parece uma festa, com banho de espuma e meninas vestidas com pequenos shorts. Nos dias subsequentes sobrevém a polêmica: as estudantes, e vários de seus pais, protestando contra as medidas tomadas pela escola de proibir roupas muito curtas no ambiente escolar. A questão que se impõe é entender que tais aspectos, por impactante que possa parecer, podem estar estreitamente relacionados.

Nossa prática profissional tem permitido constatar a assustadora e prevalente dificuldade atual da família e demais instituições formadoras em estabelecer limites, claros e bem fundamentados, para nossas crianças e adolescentes, parecendo mais fácil gratificá-las para que não “incomodem”. Sobre isso, um célebre pensador em saúde mental ressaltou que amar e frustrar uma criança deve ser como colocar água em uma planta: os dois não podem faltar nem ser excessivos, pois em ambos os casos a planta não cresce, ou mesmo chega a morrer.

O que constatamos é uma sociedade refém da criança, do belo e do pagante. A criança com direitos ilimitados, o belo como um padrão discriminatório e o pagante com todos os direitos e poderes que a criança e o belo possuem e muito, muito mais. O que isso poderá se relacionar com corrupção, com criminalidade? Infeliz e assustadoramente, existe muita relação, pois esses enormes problemas sociais refletem a falência das figuras paternas (de autoridade), o individualismo (meu desejo acima do desejo do outro), o narcisismo (o próprio desconhecimento do outro como um sujeito) e a atrofia de uma geração que entende que precisa ser gratificada sempre. Protestar é saudável na juventude, mas interessante refletir que até isso só ocorre quando se recebe limites.

E a Camille Paglia? A polêmica feminista, que discute se a mulher moderna, ao se expor em demasia não estaria presa, ainda, ao velho paradigma de ser somente um corpo. Mas isso é, como dizem os antigos, outro “angu de caroço”.

 

Izaura Franqui da Silva
Psicóloga, psicoterapeuta, professora universitária

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Imagem ilustrativa: edição sobre imagem g1.globo.com