A motivação na educação infantil

À medida que a criança cresce, atinge diversos níveis de maturidade, sabe-se que cada indivíduo tem um desenvolvimento de acordo com suas próprias características e contexto, mas em geral, espera-se algumas características particulares em cada faixa etária. Por isso é muito importante que cada professora conheça os aspectos socioafetivos esperados para sua turma. Podendo assim criar e organizar aulas que correspondam às necessidades maturacionais de seus alunos.

Motivação e necessidades dos alunos na Educação infantil
As experiências vivenciadas na primeira infância são a base da personalidade da criança que está se desenvolvendo, por isso é de extrema importância o papel da educadora nessa fase.
Nos primeiros anos de vida, as necessidades da criança são diretamente ligadas ao apego, ao afeto, à curiosidade e à exploração. Precisam ser amadas e protegidas, quem ama cuida, e quem cuida deve fazê-lo com amor. Não basta que apenas haja higiene e alimentação adequada para que se assegure o desenvolvimento da criança. O investimento afetivo é o que permite uma formação de auto-estima positiva.
A partir dos cinco meses de idade os bebês são capazes de decifrar expressões faciais, e e tonalidade de voz, sabendo distinguir entre expressões ou falas tristes ou alegres.
Olhar nos olhos da criança enquanto a alimenta, brincar e falar com ela durante a troca de fralda, acalma-la quando chora, contribui para seu bem estar e segurança, o que desperta uma curiosidade confiante no mundo. Assim possibilita-se que o bebê signifique as relações do seu cotidiano e possa ampliá-lo à medida que se percebe aprovado em suas iniciativas e acalentado em suas angústias.
Crianças que apenas recebem o tratamento restrito de higiene e alimentação, em um ambiente sem estímulos e afeto demonstram apatia e desinteresse social, tendo seu desenvolvimento cognitivo e sua capacidade de relacionar-se cruelmente limitados.

Necessidades de realização e afirmação pessoais e necessidades de poder e dominação 
As crianças pequenas têm motivação intrínseca de dominação do ambiente, assim desenvolvem as capacidades de caminhar, alcançar objetos, e seguidamente o controle esfincteriano (desfralde). Todas essas conquistas são sentidas com orgulho pelos pequenos, que sentem-se com capacidade de domínio sobre o ambiente e sobre seu próprio corpo. Assim, tentam dominar também seu espaço e pessoas próximas. A melhor forma de controlar toda essa sede de domínio, é fazendo desafios de superação que possibilite o desenvolvimento da criança. Dessa forma ela não precisará testar tanto os limites dos que estão a sua volta.

Necessidades relativas ao prestígio, afirmação pessoal, reconhecimento e exibição 
Por volta dos três anos, a experimentação da própria competência é essencial na construção da auto-estima e afirmação pessoal da criança. Por isso gostam de repetir trabalhos e brincadeiras que realizam com sucesso. Reconhecimento das suas habilidades e superações, juntamente a um ambiente afetuoso auxiliam na construção de uma auto-imagem positiva e confiante para enfrentar novos desafios.

Necessidades relativas à defesa da condição social e à evitação de humilhação 
As crianças em idade pré-escolar começam a sentir vergonha e culpa se não conseguem atingir bons resultados. Com quatro a cinco anos de idade evitam situações frustrantes e ao vislumbrar algum fracasso podem desistir de uma atividade mesmo antes de iniciar.
Ou ainda podem tentar burlar as regras em benefício próprio para atingir o sucesso, mesmo que superficialmente.
As necessidades de evitação à humilhação e a preservação da auto-estima são facilmente observadas e, a escola deve proporcionar brincadeiras que resultem em muitos vencedores e extinga atividades que possam resultar em algum “último colocado”. Por isso é necessário a sensibilidade da professora, assim como o conhecimento sobre as capacidades motoras e cognitivas da faixa etária em que trabalha para que não hajam fracassos sucessivos e desmotivadores que possam favorecer uma baixa auto-estima.

Necessidades referente às relações afetivas, afiliação e cuidado
As primeiras relações exercidas pela criança, é com a família. À medida que vai crescendo, a criança tem a necessidade de expandir essas relações, o que é primordial para o convívio social. Quanto mais a criança se desenvolve, mais necessita de pares para se identificar e interagir. Assim, a escola se torna o melhor lugar para que esses encontros aconteçam. Dessa forma, é necessário um olhar atento para crianças com idade pré-escolar que demonstram dificuldades de se inserirem em grupos ou que são hostilizadas pelos demais. Buscando auxiliar o aluno no processo grupal, criando atividades em que essa criança seja importante para a turma ou promovendo a aproximação dela com colegas de temperamento semelhante ou que sejam mais abertos à aceitação social.

Necessidades relativas ao poder, dominação ou submissão e superação da derrota
É essencialmente através do brincar que a criança constitui sua personalidade, busca solucionar conflitos psíquicos e constrói suas relações. Utilizando-se do jogo a criança desenvolve sua imaginação e a confiança em sí, seu autocontrole e cooperação, enquanto se diverte.
A criança não brinca apenas para repetir aquilo que lhe é agradável, mas também, para superar o que é doloroso. Por exemplo, na fantasia de super-herói meninos e meninas podem satisfazer suas necessidades de poder e prestígio. A criança ao brincar pode satisfazer desejos agressivos, ou de retorno da violência contra ela. A brincadeira deve ser explorada e usada afím de aliviar e desenvolver as crianças. Brincadeiras com massinha de modelar, argila e tinta propiciam descargas agressivas. Brincadeiras com colagem propiciam descarga de carência excessiva, brincadeiras de vestir roupas do papai e da mamãe propiciam a identificação dos papéis de gênero e sociais, objetivando a elaboração edípica. (fase do desenvolvimento normal em que a criança se “apaixona” pelo genitor do sexo oposto e rechaça o genitor do mesmo sexo)

Necessidade de alegria, lazer e divertimento
As propostas escolares devem ser intencionalmente lúdicas. Ao perpassar os corredores da escola, devemos estar fadados a ouvir risadas e conversas animadas, de crianças alegres por estarem naquele ambiente, desenvolvendo atividades que lhe causem prazer imediato. É do nosso conhecimento que as crianças tem baixo nível de atenção e tolerância em atividades em que a motivação não seja intrínseca.
A alegria é entendida como saúde mental. Crianças muito quietas ou irritadiças podem estar atravessando algum tipo de problema familiar ou até estar doente, e deve ser observadas com atenção.
De acordo com a importância do brincar no desenvolvimento das crianças, a escola deve estar munidas de jogos, brinquedos, proporcionar brincadeiras de roda, canções populares e folclóricas de acordo com a faixa etária de cada criança, mas também de sua idade emocional contexto social. Para que tudo faça sentido, a educadora deve permitir-se “regredir” à idade de seus alunos, sem perder o referencial adulto, para poder interagir
com eles e favorecer a expressão pessoal das crianças e sua criatividade nas atividades escolares.

Rosele Barcelos de Souza
Psicóloga – CRP

 

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