O poder antioxidante do cacau

Pesquisas recentes mostram que o consumo do cacau in natura minimiza o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares e ajuda a melhorar a memória.

O nome Cacau deriva do latim Theobroma que significa “comida dos deuses“ e não é à toa que ele é chamado assim. As pequenas sementes da fruta do cacaueiro eram usadas em culturas ancestrais da América do Sul em rituais sagrados. Os povos Maias, por exemplo, utilizavam a semente do cacau para criar uma bebida em cultos e cerimônias de casamento.

No início do século XVIII, surgiram as primeiras “Casas de Chocolate“. A partir desse momento a produção da manteiga do cacau e do chocolate ganharam proporções industriais em todo o continente europeu tornando o chocolate uma febre em todo o mundo.

Hoje, a fabricação do chocolate acontece de várias formas e a produção chega a utilizar 3 milhões de toneladas de sementes de cacau. No entanto, atualmente existe uma tendência para o consumo em todo o mundo do cacau “in natura“, ao invés do chocolate. Isso parece ocorrer devido aos seus prováveis benefícios para a nossa saúde. Mas afinal, esses benefícios existem mesmo? Quais são as propriedades do cacau para a nossa saúde? 

A semente do cacau é rica em substâncias como os polifenóis e os flavonoides que possuem um provável efeito antioxidante no nosso organismo. Observando-se diversos estudos, a semente do cacau possui um grande poder antioxidante entre todos os alimentos. Um exemplo é o estudo de Crozier et al. publicado em 2011 que evidencia o alto escore ORAC da semente do cacau. A medida ou escore de ORAC (Oxig Radical Absorbance Capacity) é um padrão científico que atribui o valor antioxidante para alimentos e substâncias. Um alto ORAC significa maior poder antioxidante do alimento e a semente do cacau possui um dos maiores em comparação com outros super alimentos como o açaí e o blueberry.

De fato, uma pesquisa recente de Sansone et al publicada em setembro de 2015 no British Journal of Nutrition (fator de impacto 3,4) mostra que o consumo diário de 450mg de flavonoides do cacau foi capaz de melhorar a função endotelial em pacientes de risco para doenças cardiovasculares, além de minimizar a porcentagem de eventos cardiovasculares dentro de um período de 10 anos de acordo com o escore de risco Framingham.

Foram investigados os efeitos do CF em indivíduos de meia idade saudáveis, sem história, sinais ou sintomas de doenças cardiovasculares. Em 1 mês, a ingestão de CF aumentou a vasodilatação mediada pelo fluxo (FMD) de 1 a 2%, reduziu a pressão sistólica e diastólica em 4,4mmHg e 3,9 mmHg, respectivamente, o colesterol total em 0,2 mmol/L, o LDL em 0,17 mmol/L e aumentou o HDL em 0,1 mmol/L. Ao aplicar o escore de risco Framingham, CF foi capaz de reduzir significativamente em 10 anos os riscos de doença cardíaca coronariana (CHD), infarto no miocárdio, doenças cardiovasculares e morte por CHD e CVD (doenças cardiovasculares).

Em outra pesquisa da Columbia University Medical Center adultos saudáveis com idades entre 50 e 69 anos receberam uma alta dose de flavonoide (900mg) ou baixa (10mg) através de uma bebida do cacau. Após três meses, os pesquisadores avaliaram função cerebral dos participantes e encontraram melhorias significativas na saúde do giro denteado e no desempenho no teste cognitivo entre aqueles que consumiram a bebida com alta dose de flavonoide. Um dos autores do estudo Scott Small ressaltou “que a melhora na memória foi algo realmente inesperado e surpreendente”.
Vale ressaltar que os benefícios não estão relacionados com consumo do chocolate processados em geral, mas sim com o consumo do cacau “in natura” nas formas de amêndoas (nibs), cacau em pó 100% e chocolate com quantidades de cacau >70%.

Fontes relacionadas com benefícios do consumo do cacau nos estudos
– Semente (Nibs ou Amêndoas) do cacau “in natura“
– Cacau em pó orgânico
– Chocolate Escuro ou Amargo (70 a 99% cacau)

Fontes não relacionadas com os benefícios encontrados nos estudos
– Chocolates processados pobres em cacau
– Chocolate ao leite
– Chocolate Branco

Referências: 
SJ Crozier, AG Preston, JW Hurst et al. Cacao seeds are a “Super Fruit”: A comparative analysis of various fruit powders and products. Chem Cent J. 2011; 5: 5.
R Sansone, A Rodriguez-Mateos, J Heuel et al. Cocoa flavanol intake improves endothelial function and Framingham Risk Score in healthy men and women: a randomised, controlled, double-masked trial: the Flaviola Health Study. British Journal of Nutrition (2015), 114, 1246–1255.
SG Westa, MD McIntyrea, MJ Piotrowski et al. Effects of dark chocolate and cocoa consumption on endothelial function and arterial stiffness in overweight adults. British Journal of Nutrition (2014), 111, 04, 653-661.
Heiss C, Dejam A, Kleinbongard P, et al. Vascular effects of cocoa rich in flavan-3-ols. JAMA (2003) 290, 1030–1031.
Heiss C, Keen CL & Kelm M. Flavanols and cardiovascular disease prevention. Eur Heart J (2010) 31, 2583–2592.

Marcela I. Silveira
Nutricionista
CRN2 953122

 

Imagem ilustrativa: pixabay.com