Intoxicação na infância
No ano de 2013 foram registrados 42.128 casos de intoxicação e destes 209 evoluíram para o óbito, a faixa etária de maior ocorrência deste acidente foi de 1 a 4 anos. Para crianças as consequências são mais sérias quando comparada ao adulto por possuírem uma estrutura corporal menor e um metabolismo mais rápido.
Para crianças o risco está relacionado a exploração do ambiente, um comportamento comum do seu desenvolvimento, e que poderá favorecer a colocação de objetos na boca ou brincar com frascos coloridos contendo líquidos, já que são atraídas pelas cores, tornando-se mais vulneráveis a intoxicações e envenenamentos.
Os principais agentes causadores de intoxicação foram os medicamentos, drogas de abuso e animais peçonhentos, porém números expressivos de intoxicação por outros agentes também foram registrados (plantas, agrotóxicos, domissanitários, produtos químicos industriais, alimentos, etc).
Por conta do efeito negativo que uma intoxicação poderá causar na saúde, e por considerar a escola um ambiente privilegiado para abordar temas de promoção da saúde e segurança, discutir sobre intoxicação poderá ser de extrema relevância.
O que é intoxicação?
A intoxicação é uma resposta inadequada (e química), do organismo humano exposto a um agente potencialmente tóxico, que pode ser produto de uso domiciliar, medicamentos, praguicida entre outros.
Considerações relevantes sobre intoxicação:
– Tempo de exposição: quanto maior for o tempo em que a pessoa ficou exposta aos produtos químicos, maiores serão as possibilidades deste produto causar danos à sua saúde.
– Concentração do agente químico: quanto maior for a concentração do agente químico, maior será a chance de poder causar um efeito danoso à saúde.
– Toxicidade: algumas substâncias são mais tóxicas que outras, se comparadas a uma mesma concentração.
– Natureza da substância química: se é um gás, um líquido, vapor, etc. Isto tem relação com a forma de entrada deste tóxico no organismo.
– Susceptibilidade individual: algumas pessoas são mais sensíveis do que outras a determinados agentes químicos.
Como ocorre a intoxicação?
Como as substâncias químicas são introduzidas no corpo humano:
– Através do contato: determinadas substâncias podem penetrar no organismo através da pele e dos olhos, mesmo que o contato seja breve.
– Através da inalação: algumas substâncias químicas são nocivas quando inaladas, o que pode acontecer quando estamos em um local contaminado.
– Através da ingestão: ingestão acidental de produtos químicos, cápsulas de medicamentos ou alimentos contaminados e hábitos inadequados de higiene.
Os principais grupos de agentes toxicantes são:
• Medicamentos
• Produtos de uso domiciliar (produtos de limpeza, pilhas, baterias, etc)
• Pesticidas agrícolas
• Raticidas
• Plantas
Medidas gerais de prevenção de intoxicação:
• Guardar todos os produtos de higiene e limpeza e medicamentos trancados, fora da vista e do alcance de crianças;
• As tintas do berço e da parede não podem conter substâncias tóxicas como chumbo e monóxido de carbono, as quais fazem mal à saúde da criança, por isso é importante prestar atenção à composição das tintas utilizadas em sua residência;
• Manter os produtos em suas embalagens originais. Nunca colocar um produto tóxico em outra embalagem para que não seja confundido com algo sem perigo;
• Conhecer quais produtos domésticos são tóxicos é muito importante, até enxaguantes bucais podem ser nocivos para crianças;
• Não criar novas soluções de limpeza misturando diferentes produtos designados para outro fim;
• Sempre ler os rótulos e bulas, siga corretamente as instruções para dar remédios às crianças, baseado no peso e idade, e use apenas o medidor que acompanha as embalagens de medicamentos infantis;
• Quando adquirir um brinquedo para a criança, certificar-se que ele é atóxico, ou seja, não contém componentes tóxicos;
• Jogar fora medicamentos com data de validade vencida e outros venenos potenciais;
• Procurar em áreas de armazenamento por produtos de limpeza ou de trabalho que você não esteja utilizando;
• Instalar detectores de fumaça no ambiente. É estimado que estes detectores, projetados para soar um alarme antes que o nível de monóxido de carbono (fumaça) acumulado seja perigoso, podem prevenir metade das mortes por envenenamento por monóxido de carbono. Se o alarme soar, deixar a casa imediatamente e ligar para o departamento de Bombeiros (193) ou serviço de emergência médica (192);
• Manter telefones de emergência em local visível e próximo a aparelhos de telefone.
Medidas específicas para prevenção de intoxicação:
A diminuição das mortes por intoxicações está diretamente ligada à adoção de medidas preventivas e educativas, como a obrigatoriedade de embalagens de medicamentos com tampas invioláveis, educação pública permanente através da mídia, e a criação dos centros de controle de intoxicação (CCI), facilmente acessíveis por telefone.
Como prevenir intoxicação por medicamentos:
• Utilizar medicamentos apenas sob orientação médica, e recusar conselhos de amigos, vizinhos e parentes;
• Ler com atenção as instruções da receita e da bula. Em caso de dúvidas, consultar o médico;
• Segui corretamente os horários prescritos pelo médico, pois a alteração do horário pode provocar efeitos não esperados;
• Evitar tomar medicamentos na frente das crianças, pois elas costumam imitar os adultos;
• Dê preferência a embalagens com tampas a prova de abertura por crianças. Essas tampas de segurança não garantem que a criança não abrirá a embalagem, mas podem dificultar bastante, a tempo de que alguém intervenha;
• Verificar o prazo de validade, pois medicamentos vencidos além de não fazer efeito, podem causar intoxicações;
• Manter os produtos na embalagem original;
• Guardar os medicamentos em locais fechados, longe do alcance das crianças;
• Medicamento não é brinquedo por isso nunca dar embalagens ou frascos contendo medicamentos para uma criança brincar;
• Nunca se refira a um medicamento como doce, isso pode levar a criança a pensar que não é perigoso ou que é agradável de comer.
Como prevenir intoxicação por produtos de limpeza e cosméticos:
• Não guardar alimentos junto com produtos de limpeza, cosméticos ou inseticidas;
• Não comprar produtos de limpeza de origem clandestina (em embalagens PET ou reaproveitadas);
• Não guardar os produtos em garrafas de refrigerante ou outros frascos, mantenha-os em suas embalagens originais;
• Não reutilizar embalagens vazias de produtos de limpeza;
• Não fumar, beber ou comer quando estiver manipulando um produto de limpeza;
• Manter os produtos cosméticos fora do alcance das crianças, e sua utilização deve ser feita sob supervisão de um adulto;
• Guardar os produtos químicos de uso domiciliar fora do alcance de crianças em armário trancado a chave.
Como prevenir intoxicação por plantas:
Muitas plantas que se encontram em jardins, terrenos baldios, parques e logradouros públicos podem oferecer risco à nossa saúde e à dos animais. Por isso é importante tomar alguns cuidados, tais como:
• Evitar levar plantas tóxicas ou desconhecidas para casa, local de lazer, escola ou onde se encontram crianças por longos períodos;
• Ensinar as crianças a identificar as espécies venenosas mais comuns da região;
• Evitar plantas ornamentais com flores, sementes ou frutos atraentes, com espinhos ou grandes quantidade de exsudato (látex), principalmente em local de permanência de crianças;
• Procurar conhecer a toxicidade das plantas e do local onde se encontram (proximidades de sua casa, escola, local de trabalho, de lazer, etc.);
• Não comer frutos ou plantas desconhecidas e não deixar ao alcance de crianças;
• Orientar e educar as crianças e alunos a não mexer nas plantas e, principalmente, a não levá-las à boca;
• A principal medida de prevenção é evitar a presença dessas plantas em local de circulação pública e, principalmente, em áreas de lazer.
Confira abaixo algumas plantas que podem causar intoxicação e até morte:
– Aroeira
– Jibóia
– Antúrio
– Tinhorão
– Comigo-ninguém-pode
– Espirradeira
– Espada-de-São-Jorge
– Azaléia
– Alamanda
Se ocorrer uma intoxicação o que pode ser feito?
O mais importante é reconhecer quando uma intoxicação ocorre, confira abaixo os sinais e sintomas:
• Sinais evidentes, na boca ou na pele, de que a vítima tenha mastigado, engolido, aspirado ou entrado em contato com substâncias tóxicas, como por exemplo: salivação, aumento ou diminuição das pupilas dos olhos, sudorese excessiva, respiração alterada e inconsciência.
• Hálito com odor estranho.
• Modificação na coloração dos lábios e interior da boca, dependendo do agente causal.
• Dor, sensação de queimação na boca, garganta ou estomago.
• Sonolência, confusão mental, torpor ou outras alterações de consciência.
• Náuseas e vômitos.
• Lesões cutâneas, queimaduras intensas com limites bem definidos ou bolhas.
• Convulsões.
• Queda de temperatura, que se mantém abaixo do normal.
• Paralisia
Em todos os casos de intoxicação, é importante investigar a área onde a pessoa foi encontrada, para identificar com maior precisão e rapidez o possível o agente causador.
Muitos indícios são úteis nesta dedução: frascos de remédios, produtos químicos, materiais de limpeza, bebidas, seringas de injeção, latas de alimentos, caixas e outros recipientes.
Atenção: Muitas pessoas supõem que exista um antídoto para a maioria ou a totalidade dos agentes tóxicos. Infelizmente isto não é verdade. Existem apenas alguns produtos específicos para certos casos e que, mesmo assim, necessitam de orientação médica para serem usados.
Em caso de intoxicação, entre em contato imediatamente com o pronto-socorro ou Centro de Controle de Toxicologia de sua cidade para receber orientações adequadas.
Ao entrar em contato com o Centro de Controle de Toxicologia informe:
• Idade do paciente
• Peso do paciente
• Como foi o contato com o produto
• Há quanto tempo foi a exposição
• Os sintomas que o paciente está apresentando
• Informações sobre o produto – tenha a embalagem em mãos
Cuidados gerais em casos de intoxicação:
• Identificar primeiramente sinais de parada cardíaca ou respiratória, em caso positivo iniciar rapidamente o suporte básico de vida e acionar o serviço de emergência (por isso é importante conhecer os procedimentos para prestar suporte básico de vida);
• Cuidados com a segurança do socorrista, evitando que este entre em contato com o produto intoxicante.
• Remover a vítima para local arejado.
• Afrouxar as vestes e, caso estejam contaminadas, retirá-las, cortando-as.
• NUNCA deixar a vítima sozinha.
• Deixar a vítima falar, deixando-a o mais confortável possível.
• Transportar a vítima em posição lateral, a fim de evitar aspiração de vômito, se ocorrer.
• Transportar junto, restos da substância, recipientes, embalagens e aplicadores.
No caso de intoxicação por contato com a pele ou olhos:
• Lavar abundantemente o local afetado com água corrente.
• Se os olhos forem afetados: lavar com água corrente durante 15 minutos e cobri-los, sem pressão, com pano limpo ou gaze;
• Encaminhar ao serviço médico (pronto socorro ou hospital).
Nos casos de intoxicação por inalação:
• Remover a vítima para local arejado;
• Encaminhar ao serviço médico (pronto socorro ou hospital).
Nos casos de intoxicação por ingestão:
• Não provocar vômito;
• Não oferecer água, leite ou qualquer outro líquido.
• Encaminhar, com urgência, para serviço médico (pronto socorro ou hospital).
Referências:
• Biossegurança, intoxicações e envenenamentos. Fundação Oswaldo Cruz, 2009.
• CENTRO DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Endereços dos Centros de Assistência Toxicológicas CEATOX. Centros de Assistência Toxicológica – Brasil, CVS, 2015.
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• PEIXOTO, M. I; et al. Vigilância para prevenção de acidentes nas escolas: formando multiplicadores de saberes, Congresso Nacional de Educação, CONESU, 2014.
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• PREFEITURA DE SÃO PAULO. Intoxicação. Vigilância em Saúde, Doenças de Agravo, 2011.
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• WAKSMAN, R. D., GIKAS, R. M. C., BLANK, D. Crianças e adolescentes em segurança. Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, São Paulo, Manole: 2014.